terça-feira, 25 de dezembro de 2012

NATAL, TESTEMUNHO DA VERACIDADE DE DEUS

Mensagem pregada na III Igreja Presbiteriana em Gurupi, 24/12/2012

nataliiipregarNeste domingo, por ocasião da Escola Bíblica, mencionei que o natal é um momento de grande alegria, mas também de os cristãos lembrarem-se que o natal é onde [ou quando, se preferirem] a páscoa começa, e disso não abro mão – é sempre oportuno lembrar, porque muitos estão celebrando o natal sem experimentar os efeitos da cruz.

Já li muitas coisas, muitos livros - este ano, que foi um ano atípico, li 47 livros e um número indefinido de artigos e outros tipos de literatura. Já li autores de renome mundial, como Shakespeare e muitos outros. Já li literatura nacional de todos os tipos - já li, inclusive, uma enciclopédia de capa a capa [Enciclopédia dos Trópicos]. Mas em todos estes livros nunca encontrei uma história que supera em beleza e singeleza a historia do nascimento de Jesus Cristo. Ela é tão simples, e ao mesmo tempo tão extraordinária, tão coerente e ao mesmo tempo tão inusitada, tão humana e tão celeste que não poderia ter saído da mente de homem algum. Uma rápida lembrança da fantástica cosmogonia greco-romana nos leva a constatar que há falhas grotescas em suas historias a respeito de suas divindades. Não é assim com a historia do nascimento de Cristo. Não há falhas, desde o seu começo não há qualquer evento que possa ser considerado contraditório. E é impressionante se lembrarmos que esta historia foi contada por vários autores, e no decorrer de muitos séculos.

Ela não começa em Belém - começa muito antes, quando Adão e Eva cometem o mais terrível dos erros: confiam na mentirosa serpente, e desobedecem ao amoroso criador. É a mais bela, a mais longa e mais coerente historia de amor que encontramos em qualquer literatura. Às portas do Éden o Senhor anuncia a Eva que a humanidade ainda era alvo de seu amor - e que ele próprio providenciaria um redentor para os descendentes deste casal agora caído em desgraça. E lá, paradoxalmente, enquanto os punia por sua desobediência dava-lhes um alento de esperança [Gn 3.15]. Deus lhe prometeu que um seu descendente, da semente da mulher, esmagaria a cabeça da serpente - e Eva parece crer que isto se daria imediatamente com o nascimento de Caim, seu primeiro descendente masculino [Gn 4.1], mostrando que as expectativas e realizações humanas são, não apenas frustradas, mas frustrantes, como mostra o tipo de cabeça que Caim esmagaria. O descendente seria aquele que o Senhor enviaria, não o que os homens escolheriam.

Séculos depois, o Senhor confirma a sua promessa a um homem e sua esposa. Abrão e Sarai são chamados para serem a semente de uma nação santa, uma nova nação, diferente dos idólatras caldeus. O Senhor lhe promete fazer dele e de seus descendentes uma nação numerosa e abençoadora para todas as famílias da terra - entretanto, o convite trazia em si uma prova de fé, pois eram de idade avançada já por esta época. Aos 90 anos, amortecido, casado com uma mulher também já infértil, Abrão tem seu nome mudado para Abraão, e Sarai passa a chamar-se Sara. E, apesar de percalços, continuam crendo que o Senhor os usaria para serem parte da raiz de onde sairia o redentor, chegando mesmo a visualizar, pela fé, o dia da realização desta missão quando seu descendente abençoaria todas as famílias da terra [Jo 8.56].

Outros capítulos desta história foram escritos por diversos servos de Deus, os profetas, que viviam seu tempo, mas de olho nas promessas, ou, mais especificamente, na promessa da chegada do redentor, sem, no entanto, alcança-las [Hb 11.13]. Assim foi com Moisés [Dt 18.15], como Miquéias que sabia até o local onde ele nasceria [Mq 5.2]. Mas nenhum profeta foi tão claro quanto ao nascimento do redentor quanto Isaías. Falou tanto sobre Jesus que é chamado de “o profeta evangélico”... Seus escritos pintam um quadro tão impressionante do nascimento, vida, ministério e morte de Jesus, indo além, até à sua vitória sobre a morte, que seu livro mais parece um quinto evangelho. Foi ele quem anunciou que a virgem conceberia, e que aquele menino receberia poder para governar como um maravilhoso conselheiro, um Deus poderoso, gerado na eternidade e príncipe da paz [Is 9.6-7]. Tudo quanto Isaías escreveu foi-lhe revelado 740 anos antes de acontecer. Qual historia deste mundo contém tão impressionante feito?

Para o primeiro natal o Senhor fez questão de convidar pessoas de todos os tipos, de todas as classes sociais, de todos os matizes. Convidou pessoas simples, como os pastores que cuidavam dos campos nas proximidades de Belém, proporcionando-lhes uma impressionante demonstração, ainda que ínfima, da maravilha que é a corte celeste, com anjos louvando ao Senhor. Dos campos, sem paramentos, seu enfeites, apenas com o coração jubiloso e cheio de fé, correm para adorar ao redentor recém-nascido. Outros pobres, como eles, ouviram a notícia, pois eles saíram contando, mas evidentemente não há registro de outros que creram em seu relato, desprezando o que diziam. Não apenas pobres, mas também pessoas cultas são convidadas para a festa. E isto, novamente, pelo próprio Senhor, que fez brilhar fulgurante estrela indicando aos magos que algo de extraordinário estava acontecendo em Israel. Creio que eles não levavam presentes para todos os príncipes que nasciam naquela época - todavia eles sabiam que aquele menino era diferente, e precisavam ir vê-lo, e, mais ainda, adorá-lo. Eram homens estudiosos e, provavelmente, de posses, a ponto de serem recebidos no palácio real de Herodes, que não era, como a historia conta, um homem de se relacionar com pessoas humildes. Através dos magos os religiosos são informados do nascimento do redentor - e, mesmo pesquisando não se dão ao trabalho de irem verificar se o menino nascido é realmente o messias descrito em seus livros. Religiosos profissionais, indiferentes à ação de Deus. Mas havia outros religiosos, como Ana e Simeão. Ana aguardava, dia e noite, a chegada deste momento, e Simeão fica tão contente em ver o menino que afirma estar pronto para encontrar-se com o criador, pois havia conseguido o que mais desejava em sua vida [Sl 23.1].

Também tomam conhecimento do nascimento do redentor políticos, poderosos do seu século, representados aqui por Herodes. Sua única preocupação foi com a segurança de seu trono, com a manutenção do seu status e seu poder, usando de vários elementos para não perde-lo: usa os religiosos [escribas], usa até os crentes, cheio de artifícios com os magos e usa mesmo de violência para atingir seus intentos - mas o Senhor frustra os desígnios de tais homens, os perversos não podem prevalecer na congregação dos justos. A primeira festa de natal foi organizada por Deus, os primeiros convidados foram divinamente orientados pelo próprio Deus, o primeiro presente foi o do próprio Deus para a humanidade caída, como fora prometido no início da história. Ali ele recebe adoração, da qual somente Deus é digno. Ali o menino de Deus, o menino Deus receberia alguns presentes [Mt 2.10-11], embora atrasados: ouro, digno de um rei, incenso, digno de um sacerdote, e mirra, como uma profecia sobre o seu sacrifício em favor de seu povo, mostrando assim que ele teria um tríplice ministério: rei eterno, sumo-sacerdote singular e sacrifício de valor único e inexcedível para pagar os pecados de seu povo. Já na chegada Jesus provoca intenso júbilo para o coração dos crentes, mas indiferença, alarma e oposição por parte dos meramente religiosos e dos inimigos da fé.

Quando comemoramos o natal lembramos a encarnação do verbo de Deus, mas lembramos que ele veio para mais do que isso. Veio para vencer a morte, para nos substituir naquela cruz, e, só comemoramos o natal porque ele continua vivo, não foi detido pela morte, não foi vencido pelo túmulo, mas ressuscitou. Não dou muita importância à data, para mim isto é indiferente - o que não pode acontecer é ficarmos, como os escribas, indiferentes ao fato de que Deus se fez carne, habitou entre nós, e vimos sua glória, glória do unigênito do pai [Jo 1.14].

A historia não termina com o nascimento, e, como toda historia tem um propósito, esta também não deixa de ter. O Senhor Jesus afirmou ser ele o caminho, a verdade e a vida [Jo 14.6], e ele era a mais completa expressão do ser de Deus [Hb 1.3], em quem habita corporalmente a plenitude da divindade [Cl 2.9] podendo, assim dar testemunho da perfeita veracidade de Deus. E é sobre este aspecto ou propósito que vou me alongar um pouco mais.

Aproximadamente três décadas depois do seu nascimento, Jesus tem uma oportunidade de dizer para que, afinal, ele foi envaido. É o início da última fase desta historia impressionante. Ele está a caminho do calvário, e foi perguntado sobre quem ele era: sua resposta não deixa dúvida: dar testemunho, atestar, afirmar a veracidade de Deus [Jo 18.37].v

Todos vivem procurando conhecer suas verdades. Não conheço ninguém que queria ter conhecimento apenas de mentiras, de inverdades, de fantasias. Quando alguém troca a verdade por um mundo de mentiras é porque tem algum tipo de distúrbio. Mas o fato é que o conhecimento da verdade dos fatos é perseguido até pelos maiores mitômanos que possamos conhecer.

E se queremos conhecer a verdade, precisamos relacioná-la com o Senhor da verdade, com aquele que é a verdade. Todo o conhecimento histórico, filosófico, científico e tecnológico não tem valor algum se não conhecermos alguns fatos a respeito da verdade:

i. A VERDADE É QUE SOMENTE EM JESUS HÁ ACESSO A DEUS

Nenhuma filosofia, nenhuma religião, nenhuma ciência, nada que o homem seja capaz de criar é capaz de substituir o que somente Jesus é: somente ele é o caminho para Deus. Ninguém mais pode nos levar ao Pai eterno [Jo 14.6]. Qualquer outro caminho é atalho para o abismo, pois, como afirma a Palavra de Deus, há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminho de morte [Pv 16.25].

ii. A VERDADE É QUE SOMENTE EM JESUS SOMOS VIVIFICADOS ESPIRITUALMENTE

Desde que Adão colocou-se e a seus descendentes sob a maldição morte, morrendo espiritualmente no momento em que comeu do fruto que lhe fora proibido [Rm 5.12] nenhum homem conseguiu escapar desta maldição [Sl 14.3] porque, todos, indistintamente, estavam mortos em seus delitos e pecados [Ef 2.1]. Mas se um homem trouxe a morte, também um só, e nenhum outro, trouxe a vida [Rm 5.15-19]. Somente ele, nenhum outro [At 4.12].

iii. A VERDADE É QUE SOMENTE HÁ VIDA ETERNA EM JESUS

Os homens costumam afirmar como verdade o provérbio que há uma verdade comum a todos os homens: a morte. Não é assim com os que creem em Jesus. Nossa esperança não se limita apenas a esta vida [I Co 15.19] - cremos firmemente naquele que disse que quem nele crê já passou da morte para a vida [Jo 5.24] e tem a vida eterna. Cremos no que ele disse, que se nele crermos temos a vida eterna [Jo 17.3] e nada nem ninguém pode mudar isso [Rm 8.38-39].

Negar estas verdades, colocar suplementos ou negar elementos delas é colocar-se contra o verdadeiro, é abraçar a mentira [Rm 1.25]. Rejeitar a verdade de Deus, rejeitar a verdade do nascimento virginal do filho de Deus, rejeitar que o verbo se fez carne e participou de nossa natureza, fez-se um conosco, é, lamento dizer, colocar-se ao lado de Herodes, dos escribas, da multidão que estava em Jerusalém indiferente ao nascimento do redentor. É colocar-se ao lado daquele que, em última instância, desejava a morte do menino, o homicida desde o princípio, satanás [Jo 8.44].

Para o primeiro natal Deus convidou homens de todos os tipos, muitos foram informados do nascimento do redentor, porque este é um evento de implicações universais, e aponta para a ação de Deus em unir novamente todos os homens [Cl 3.11] sob o cetro do menino que nasceria para reinar com cetro de justiça. Jesus nos chama para deixarmos de lado o individualismo, para nos tornarmos comunidade, povo, nação, ramos de uma videira, partes de um corpo, de um edifício. Jesus nos chama para a união, para a fraternidade nele, na verdade. Não há unidade na mentira, só há unidade verdadeira em torno da verdade.

Jesus não tem um plano “b” para a sua Igreja. Ele planeja vê-la unida, batalhando pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos [Jd 1.3] Este é o plano de Deus para sua Igreja. Qualquer coisa diferente disto é espalhar, é ser contra o Senhor [Mt 12.30]. Ele deseja ver sua Igreja caminhando em unidade, e, no coração de cada um de nós, o desejo e o esforço diligente para que isto se torne uma realidade na vida da Igreja. Não sem propósito que o Senhor orou pedindo para que fossemos um só coração, uma só mente, como ele e o pai eram um só... Que houvesse humanidade, assim como ele estava no pai e o pai nele. Só assim o mundo olhará para a Igreja e verá Cristo, aquele que se fez um de nós, o Emanuel, o Deus conosco, semelhante a nós, conhecedor de nossas dores...

Vivemos dias difíceis, e a aceitação da mensagem por um mundo que já não tem prazer nela é tornada tão mais difícil porque ao invés de a Igreja apresentar uma mensagem, um canto, apresenta notas contrastantes, mostra-se dividida e, pior, digladia-se, morde a si mesma.

A festa comemorativa do nascimento de Jesus, para nós, é 25 de dezembro, mas se a celebração da unidade em Cristo se limita a esta data, se não há genuíno amor durante todo tempo, então, lamento informar, não é uma celebração genuína. É tão vazia quanto uma festa pagã [Is 1.12-13], era melhor não celebrar [Ml 1.10]. Natal é um convite à viver o amor de verdade, viver em unidade, com um só coração, um só pensamento [Jr 32.39]. Cristo se uniu a nós, abarcou nossa natureza, o divino fez-se um conosco, obra muito maior do que nós andarmos em unidade. Viver, de fato, o que é o natal é viver a unidade proposta por Cristo, para sua glória, em todos os momentos.

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